quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uno



Há muito que não escrevo. O último post data do mês passado. Mas não é isso que quero dizer.

Há muito que não escrevo!! Há muito que não deixo que os sentimentos me escorram pela ponta dos dedos e se tornem palavras. Há muito que não me traduzo.
Ando muito uno, mas às vezes tenho saudades de não saber quem sou.


Quero levar-te num passeio ao luar. À beira rio, à beira mar. Tanto faz. Mas quero levar-te a passear.
Estar na tua presença. Sentir-te o cheiro e o toque.
Comer um gelado, apetece-me partilhar um gelado do teu sabor. Agridoce.

Gostava de te levar a voar até ao meu mundo.

Quero visitar-te, passear em campos verdes. Quero segurar a tua mão, ver a neve cair.
Quero dar-te um ramo de hera e um cajado. E talvez um clarim.
Vou fazer uma coroa também de hera e tornar-te rainha do meu mundo.

Gostava de te arrancar os órgãos um por um, guardá-los em vasos canopos cheios com uma solução de bicarbonato de sódio.
Depois enfaixava-te com tiras de algodão e imortalizava-te. Que dizes?

Não fujas, não sou nenhum lunático. Sou insano, sou o dementezinho.

E o que eu quero mesmo é um abraço.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Desabafo



Em prol do ócio vivem todos ausentes e já ninguém sabe quem é.
Todos se olham, todos espreitam o dia uns dos outros na ânsia de encontrar o que quer que seja.
Eu; eu vivo perdido nesta família, nestas almas que fazem da vida um empréstimo sem retorno que esbanjam em futilidades como se não houvesse amanhã.
Tenho vergonha da sociedade em que (sobre)vivo.

Permaneço no silêncio em gesto de solidariedade... por mim.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Orgasmo



Esse encanto que trazes contigo, o brilho dos teus olhos. O domínio que exerces em mim. Exalas primor.
Quero levar-te num passeio a um qualquer lugar. Estar contigo, voar bem alto. Fazer planos, viver e ser feliz. Mesmo que só por um dia.
Tenho vontade de te agarrar, vontade de te puxar para mim, te beijar, te abraçar e sorrir para ti.
Quero sentir o teu toque, quero conhecer-te até ao mais pequeno espasmo.
Arrancar-te a roupa, levar-te num sonho. Fazer-te suar, sorrir de prazer.
Quero apertar-te contra mim e sentir-me em ti.
Quero perder-me na banalidade e foder-te com as letras todas.
Quero amar-te eternamente por uma noite, quero beijar todos os pedaços de ti.

Quero que me leves à loucura para perder-te para um orgasmo.

Pões-me doido. Ainda mais.

Perdido em mim



Grito mudo. Entoam-me na mente essas palavras loucas. Alto, tão alto que estilhaça o meu sol e me faz perder no escuro.
Mas não sei o que dizes. Essas pragas que me rogas, os pecados que me acusas.
Eu costumava ser um Deus. Agora não passo de uma criança muito grande a reviver as alegrias do passado. Subi a rua, aprendi a caminhar.
As palavras que cospes não chegam a mim. Estou a voar. A viver o auge da minha felicidade.
Estou, pela primeira vez em muito tempo, perdido em mim.

Eu queria ser nascido de uma rima.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Rua íngreme



São rodas. Nasci com rodas no lugar dos pés. E a vida, uma rua íngreme que tento subir, não espera que eu chegue lá ao topo.
Não saio do sítio, corro como um desalmado e fico ali, imóvel. Mudam-se-me as roupas, gastam-se as casas, erguem-se novos edifícios.
Vejo, lá no fundo, miúdos a dobrarem a esquina. Sei a história daquele museu, da galeria e do estádio de futebol. Aquela biblioteca tem como emprestado o nome do dono do edifício. Enquanto aquilo não passava de uma mansão.
Aquela menina ali que leva o filho pela mão é da minha geração. O rapaz que chega no carro costumava jogar a bola ali no parque, com os outros miúdos.
A mim, mudaram os tecidos que me envolvem, aumentou o cumprimento da minha sombra. Mudaram-se os sonhos e as esperanças. Mudou-se tudo. Mas, mesmo assim, permaneço imutável. Perspectivei tudo. Sei onde erraram os outros. Sei o que deviam mudar. Conheço os seus defeitos e qualidades.
Sei tudo de todos devido ao tempo que tenho para observar. Mas então, quem sou eu? Já caí, já tropecei em obstáculos que rolam rua abaixo, já me empurraram e já me ajudaram a levantar. Já fui contra pessoas ao fazer um sprint de olhos fechados. Já conheci imensas personagens. Fiz amigos. Alguns, muito bons. Há quem se dê ao trabalho de vir ter comigo ao fundo da rua e ajudar-me a subir um pouco. Vitória!! Já não estou no mesmo lugar! Passado um tempo, lá escorrego.
E vivo assim. Sem sair do lugar e à espera que a vida, esta rua chata, mude. Ou que alguém a torne plana. Tenho um conhecimento do que me rodeia quase absurdo. Uma capacidade de análise comportamental fora do normal para uma pessoa que não é especializada na área. Sei dizer-te quem és. Mas não te sei dizer qual de mim sou eu.
Agora estou sentado, cansei-me de tentar subir.
Tento mais tarde, quando der de novo vontade.

sábado, 11 de abril de 2009

Deslumbrante



Sem cores, sem cheiro. Mundo meu, a preto e branco.
Ar apático, isolado. Sinto-te longe. Mas tu vens deslumbrante e abres a porta ali ao fundo.
Olho-te. Mil coisas me passam pela cabeça. Esboço um sorriso, vontade de te abraçar.
E vens esbelta, sentar-te do meu lado. O teu cheiro, o teu toque.
Sou invadido por um sentimento agridoce. Não sei se te amo perdidamente pelo que és, se te odeio profundamente pela tua ausência.
Mas agora estás aqui, trouxeste o teu perfume e as tuas cores. Sorris-me de soslaio com os olhos a brilhar.
Brincamos até que nos falte o fôlego, perdemo-nos entre coisas inúteis.
E os meus olhos, sem o meu consentimento, falam-te, dizem-te verdades incontestáveis.
Eu seguro a tua mão em silêncio. Acaricio a tua pele e sinto-me embriagado pelo teu encanto. Abraças-me com toda a força
Fazes sentir-me como se estivesse tudo perfeito! E depois partes.
Desgraçada! Deixas saudades.

Foi um dia para recordar. E para repetir, espero.
Um beijo a ti, um abraço ao anfitrião.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Estou estranho



No prólogo dum dia vazio de sol alto pela meia noite, devaneio sobre a minha existência.
Futilidades, ninharias, frivolidades de ódios auspiciosos que me trazem memórias de um vaticínio.
Comecei então a poetar as palavras moucas que me saíam da boca em letras minúsculas.
Cuspia vocábulos em números infinitos que acabavam num instante. Era, sem luz para dúvidas, um silêncio ensurdecedor.
Uma calmaria inquietante que me arrepiava os pelos rapados. Brilhavam, no escuro da luminosidade total daquela sala sem paredes, os rodapés da minha dicção.
E, para uma plateia surda, gritavam eles em voz baixa as recônditas vontades mais sabidas da inexistência do meu ser.
Perante tal, não pude evitar o supérfluo motivo que me levou a mexer e a deixar a correria estática que era a minha vida.
Fiquei então pensativo enquanto me concentrava a ler um livro estranho numa TV desligada.

Em mil coisas que disse, não sabeis nada. Despeço-me sem jamais cá ter vindo.

Até nunca, que seja em breve.